O nacionalismo econômico de Trump e a saída dos EUA de acordos multilaterais

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I. O que é a política nacionalista econômica de Trump?

Os EUA saíram da Segunda Guerra Mundial como a maior potência econômica e militar do mundo. Porém, desde os anos de 1970, com o crescimento econômico japonês e alemão, e mais recentemente o crescimento econômico chinês, a economia americana está em declínio, ou seja, está crescendo cada vez menos: entre 1947 e 2001, o crescimento dos EUA passou de uma média de 3,5% por ano para 1,9% a partir de 2002.


O declínio econômico americano e o crescimento chinês também produziu efeitos no Brasil: desde 2009, a China é o principal parceiro comercial do país.

Em 2009, as exportações brasileiras para a China foram de US$ 20,191 bilhões e as importações, de US$ 15,911 bilhões. Para os Estados Unidos, foram exportados do Brasil US$ 15,740 bilhões e importados daquele país US$ 20,183 bilhões. Se consideradas apenas as exportações, já na primeira divulgação dos números da balança comercial de 2009, a China já aparecia como principal destino dos produtos brasileiros, seguida pelos Estados Unidos.


19/05/2015 - Antes centrada na compra de commodities brasileiras e na pequena participação de empresas chinesas na exploração do megacampo de petróleo Libra, no pré-sal, agora os chineses pretendem investir de forma maciça em infraestrutura: ferrovias, portos, aeroportos, rodovias e hidrelétricas.
Exemplos recentes são as montadoras Chery, que inaugurou uma fábrica no Estado de São Paulo em 2014, e JAC Motors, que inaugurará uma fábrica na Bahia em 2016.
Uma das parcerias a ser assinada nesta terça-feira (19/05) deverá concretizar a venda de 22 aviões da Embraer a duas empresas aéreas chinesas, como parte dos 60 jatos já negociados no ano passado, durante a visita de Xi Jinping. Outro anúncio deverá ser a abertura do mercado da China à carne bovina brasileira, restrito desde o final de 2012, quando foi registrado no Brasil um caso atípico do chamado "mal da vaca louca".

Esse declínio econômico americano está ligado à globalização e à Terceira Revolução Industrial, com importantes avanços da eletrônica e das telecomunicações que levaram a uma expansão de empresas multinacionais e a uma nova divisão internacional do trabalho.


Os desenvolvimentos da eletrônica e dos sistemas de informação permitiram uma cada vez maior robotização das linhas de produção, como a de um carro. Para se ter uma ideia desse processo, nas fábricas da Fiat, a mão de obra assalariada passou de 140 mil para 60 mil operários numa década, enquanto a produtividade aumentou 75%.


Por causa dos avanços dos sistemas de informação e dos meios de transporte, um avião pode ser montado com peças produzidas em 9 países.

A globalização foi também caracterizada por um inúmeras tentativas de implementar um sistema multilateral de livre-comércio, tentando diminuir ao máximo as tarifas protecionistas e subsídios oferecidos por países a suas empresas. Esse movimento levou à criação da Organização Mundial do Comércio (OMC), em 1995, e à Rodada de Doha, em 2001.

A reunião em Genebra era considerada decisiva para a Rodada Doha, que foi lançada há sete anos com o objetivo de diminuir os entraves ao comércio internacional, mas estava paralisada devido a divergências sobre o nível de abertura em setores de interesse de países ricos e pobres.
A Rodada Doha da OMC foi lançada em novembro de 2001, na capital do Catar, com o objetivo de obter maior liberalização do comércio mundial. Quase sete anos depois, os países envolvidos nas discussões ainda não conseguiram chegar a um acordo.
Até agora, as discussões têm esbarrado principalmente no tamanho dos cortes de subsídios à agricultura por parte dos países desenvolvidos e no quanto o comércio de serviços pode ser liberalizado.
Os países em desenvolvimento criticam o que consideram políticas protecionistas, principalmente por parte dos Estados Unidos e da União Européia.
Na semana passada, as negociações pareciam estar à beira de um colapso, mas na noite de sexta-feira Lamy conseguiu uma proposta de acordo entre o Grupo dos Sete (Brasil, Índia, Estados Unidos, União Européia, Japão, China e Austrália).
A proposta prevê reduzir em 80% o limite de subsídios à agricultura e em 70% os subsídios americanos, para cerca de US$ 14,5 bilhões.
No entanto, isso não significaria que os Estados Unidos teriam de reduzir seu gasto real em subsídios aos agricultores, que totalizou US$ 9 bilhões no ano passado.
A proposta também prevê cortes nas tarifas de importação de produtos agrícolas e em bens industriais.

A OMC funciona também como um tribunal caso algum país acredite de outro esteja implementando tarifas para proteger os produtos nele produzidos. Neste ano, os EUA, país sede da Boing, ganharam um processo contra alguns países da União Europeia, que subsidiavam a produção de aviões da Airbus, permitindo que eles fossem vendidos mais baratos e prejudicasse a venda de aviões da Boing.

15.mai.2018 - Os Estados Unidos conquistaram o direito de impor bilhões de dólares em tarifas punitivas contra a União Europeia, depois que a Organização Mundial do Comércio (OMC) deu a vitória a Washington na primeira de duas disputas cruciais, que podem representar o fim de uma batalha de 14 anos sobre subsídios ilegais à Boeing e à Airbus.
A Boeing recebeu positivamente a decisão, que confirma suas queixas de que os governos europeus subsidiaram durante décadas a ascensão de sua maior rival, por meio de empréstimos de baixo custo para o desenvolvimento de novos aviões.
"O presidente Trump deixou claro que usará todas as ferramentas disponíveis para garantir os benefícios livres e justos do comércio internacional para os trabalhadores americanos", disse Robert Lighthizer, o represente do governo americano para assuntos de comércio internacional.

Um dos impactos da globalização nos EUA foi a transferência de muitas de suas indústrias para países atrasados, graças aos baixos salários pagos aos trabalhadores e aos incentivos fiscais, levando o pais a um rápido processo de desindustrialização. A Apple, a maior empresa do mundo, é exemplo de uma empresa americana que prefere produzir seus produtos em outros países, principalmente na China.

O porquê disso tem conexão com a mão de obra chinesa mais barata, sim. Mas há outros motivos…
Um deles é o fato de a maioria dos fornecedores da empresa de Steve Jobs estar localizada na China.
Fabricar um iPhone nos Estados Unidos custaria US$ 65 a mais que na China, onde a estimativa de custo de produção é de US$ 8. Isso minimizaria o lucro da Apple, apesar de não eliminá-lo. (O preço médio de venda do iPhone é de US$ 600, o que rende margem bruta de cerca de 40% à Apple, calcula o Business Insider. Assim, o lucro bruto da Apple com cada iPhone é de aproximadamente US$ 250, segundo o site.)


Os dados da desindustrialização dos EUA são impressionantes: 
  • em 1953, a indústria de transformação era responsável por 28% do PIB dos EUA; em 2014, esse número caiu para 12%; 

A desindustrialização é um fenômeno que atinge todos os países desenvolvidos. 
  • os EUA fecharam cerca de 42.000 fábricas entre 2001 e 2010; desde 1979, 60% (267/447) plantas de carros nos EUA fecharam, 42 dessas entre 2004 e 2010; 

  • na década de 1970, existiam 200 mil empregos em 130 minas de carvão, um número que diminuiu para 1.800 empregos em seis minas apenas.
A cidade de Detroit, berço da indústria automobilística moderna, foi a cidade que mais sofreu com o processo de desindustrialização nos EUA, decretando falência em 2013.

Detroit foi a quarta maior cidade dos Estados Unidos, e já foi o lar para cerca de 2 milhões de pessoas. Mas, ao longo das últimas décadas as pessoas foram fugindo em massa. Segundo o censo de 2010, apenas 713 mil pessoas vivem hoje em Detroit.
Em 1960, a cidade de Detroit teve a maior renda per capita nos Estados Unidos.
Entre dezembro 2000 e dezembro de 2010 , 48 por cento dos empregos na indústria em Michigan foram perdidos.
Hoje, a taxa de desemprego em Detroit é de mais de 18 por cento , o que é mais que o dobro do que a média nacional.
De acordo com um relatório muito chocante, 47 por cento de todas as pessoas que vivem na cidade de Detroit são analfabetos funcionais.


Detroit, porém, não foi a única grande cidade a passar pelo processo de desindustrialização nos EUA, pelo contrário. Isso também aconteceu com mais da metade das 20 maiores cidades americanas em 1950, como Baltimore, Filadélfia, Cleveland, Cincinnati e Buffalo.


O Brasil também é um país que desde a década de 1980 vem sofrendo com a desindustrialização. O peso da indústria de transformação na economia brasileira em 2014 voltou a patamares do final dos anos de 1940.
A crise que paralisa a economia brasileira deixa um rastro de empresas desativadas. Só no Estado de São Paulo, 4.451 indústrias de transformação fecharam as portas no ano passado, número 24% superior ao de 2014, quando 3.584 fabricantes deixaram de operar, segundo a Junta Comercial.
Muitos trabalhadores demitidos não receberam salários e rescisões. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre novembro e janeiro, a indústria brasileira fechou 1,131 milhão de vagas, número recorde para um trimestre.

A desindustrialização nos EUA e no mundo foi acompanhada por uma importância cada vez maior sistema financeiro. Antes da década de 1950, a maior participação do sistema financeiro no PIB dos EUA aconteceu em meio a maior crise econômica mundial, a Grande Depressão, com a quebra da bolsa de Nova Iorque em 1929, como mostra o gráfico abaixo. Depois, de 1970 até 2000, a participação do sistema financeiro no PIB dos EUA dobrou, passando de 40% para 80%.


Para os trabalhadores americanos, duas das consequênias da desindustrialização e da financeirazação da economia foram o desemprego e a diminuição dos salários, que passou em média de um pouco mais de 52 mil dólares por ano em 2001 para 46,7 mil dólares por ano em 2013. Apenas no setor automobilístico, os salários diminuíram 21% de 2003 a 2013, como mostram os gráficos abaixo.


Ao mesmo tempo que os salários dos trabalhadores diminuíram, a desigualdade social nos EUA aumentou, como mostram os gráficos abaixo. Se em 1980 o 1% mais rico do pais detinha quase 11% da riqueza nacional enquanto os 50% mais pobres possuíam quase 21%, em 2015 esses números praticamente se inverteram: o 1% mais rico passou a deter um pouco mais de 20% da riqueza americana, e os 50% mais pobres passaram a possuir 13% dessa riqueza.


Em 2010, como mostra o gráfico acima à direita, 0,1% das famílias mais ricas dos EUA detinham a riqueza equivalente a 90% das famílias mais pobres. Como também mostra o gráfico à direita acima, as duas únicas vezes que 0,1% das famílias mais ricas tiveram uma riqueza maior do que 90% das famílias mais pobres foram antes das guerra mundiais do século XX.

É contra a globalização e a desindustrialização dos EUA que Donald Trump realizou sua campanha à presidência dos EUA em 2016, que teve como slogan “Make America Great Again” (“Faça os EUA Grande de Novo”). Ele prometeu proteger e fortalecer a indústrias americanas, impedir que elas se movam para outros países e não deixar que os trabalhadores industriais americanos fiquem desempregados.

Depois de uma das semanas mais difíceis de sua campanha, o candidato republicano apresentou seu plano econômico no domingo em Detroit, símbolo do declínio industrial dos Estados Unidos. Com um discurso nacionalista, com acenos aos conservadores do establishment de seu partido e aos trabalhadores, prometeu redução de impostos e protecionismo comercial. “O americanismo, e não o globalismo, será nosso credo”, resumiu.
Envolto na bandeira de defensor da classe trabalhadora e da antiglobalização, lendo um texto preparado e interrompido por constantes protestos, Trump atribuiu aos acordos comerciais internacionais os males de cidades como Detroit, a antiga capital do automóvel.

Para Trump, a China é a grande responsável pela desindustrialização dos EUA e o desemprego industrial nesse país.

1. A China "roubou" empregos dos americanos
"Entre 1999 e 2011, o crescimento das importações americanas da China custaram ao país cerca de 2,4 milhões de postos de trabalho".
Trump prometeu durante a campanha que puniria empresas americanas que transferissem postos de trabalho para a China.
"Os chineses estão usando o nosso país para reconstruir o deles. Temos que impedir que roubem nossos empregos", disse o bilionário em setembro, durante um dos debates presidenciais.


Assim, a política nacionalista econômica de Trump se caracteriza por proteger a indústria nacional americana através de medidas protecionistas e retirar os EUA de acordos multilaterais firmados nos últimos anos. Para Trump, são o sistema de livre-comércio e a OMC os grandes responsáveis pelo declínio econômico dos EUA, que nos últimos anos supostamente favoreceram não só a China, mas também a Alemanha.

O governo Donald Trump começou nesta terça-feira, 23, a implementar a política da América em Primeiro Lugar no comércio internacional, com a imposição de tarifas unilaterais de importação sobre painéis solares e máquinas de lavar roupa. Nas próximas semanas, serão anunciadas decisões sobre os setores de aço, alumínio e a prática de transferência compulsória de tecnologia.
Ao assinar o ato sobre barreiras a painéis solares e máquinas de lavar, Trump disse que não vê ameaça de uma guerra comercial. “Nossas ações de hoje ajudam a criar empregos na América para americanos”, afirmou. Segundo ele, as tarifas de até 50% serão um “forte incentivo” para as sul-coreanas LG e Samsung fabricarem máquinas de lavar roupa nos EUA.


A Reuters confirmou uma notícia do Wall Street Journal de que o governo estava considerando lançar investigação com base na "Seção 232" sobre as importações de automóveis, que poderia ver tarifas de até 25% às importações.
A Volkswagen vê a medida de Trump como "protecionismo". "Ninguém se beneficia a longo prazo do protecionismo unilateral", afirmou um porta-voz do grupo, antes de destacar que "apenas um comércio livre e equitativo garante a prosperidade".
Em 2017, os veículos representaram 25% das exportações alemãs para os Estados Unidos, quase 29 bilhões de euros e 994 mil unidades vendidas.
As tarifas europeias aos carros dos Estados Unidos e dos países de fora da União Europeia (UE) são de 10%. Atualmente, os EUA cobram 2,5% em impostos sobre carros de passeios importados, mas a tarifa chega a 25% em caminhões e picapes, contra 14% em média na UE.

Em 23 de maio de 2018, Trump tuitou: Em breve os trabalhadores automotivos americanos terão grandes noticias. Depois de décadas perdendo seu emprego para outros países, vocês esperaram demais!”

Não é à toa que antes de Trump começar a adotar tarifas protecionistas, ele esvaziou o tribunal da OMC, o único órgão no mundo que poderia punir os EUA por essas tarifas.


Uma decisões protecionistas mais polêmicas de Trump foi anunciada em março de 2018, quando o presidente dos EUA anunciou a aplicação de tarifas de importação ao aço (25%) e ao alumínio (10%) que chega aos EUA. Trump justificou essas tarifas para defender a “segurança nacional”, uma medida supostamente adotada em casos de guerras ou emergências nacionais.

Para aumentar a tributação do aço importado, Trump acessou um dispositivo criado para defender a segurança nacional norte-americana, a chamada seção 232, que não era usado desde 2001.
Em seu discurso, Trump disse que a decisão visa a acabar com práticas comerciais injustas e preservar a segurança nacional. "A indústria americana de aço e alumínio vem sendo devastada por práticas comerciais internacionais agressivas. É um assalto ao nosso país", disse Trump, em seu discurso antes da assinatura da medida.

"O governo mexicano afirma que suas ações continuarão aderindo à regra do direito comercial internacional e serão proporcionais aos danos que o México recebe", disse o comunicado.
O México disse anteriormente que reagiria contra as tarifas dos EUA com medidas "equivalentes", visando produtos agrícolas e industriais dos EUA.

Essa medida de guerra comercial é um passo importante no desmantelamento do sistema de relações econômicas estabelecido pelos EUA depois da Segunda Guerra Mundial. Na verdade, esse sistema adotado depois da Segunda Guerra Mundial foi estabelecido exatamente para evitar um novo conflito militar de proporção mundial, uma vez que foram o nacionalismo econômico, o protecionismo e a consequente guerra comercial entre países que levaram às guerras mundiais do século XX.

Não é exagerao dizer que as politicas nacionalistas econômicas de Trump, mas também de outros países – como o Brexit no Reino Unido –, prometem inauguram uma nova “ordem mundial”.

Isso é algo que minha pesquisa vê claramente na virada do século 19 para o século 20, quando a ordem econômica global era muito protecionista. Meu estudo mostra que essas guerras comerciais e o protecionismo transformavam amigos e vizinhos em inimigos. Essas guerras econômicas têm a tendência de formar as bases geopolíticas para conflitos militares.
BBC Brasil - O que criou a atual onda de políticas protecionistas no mundo? Pode ser ainda reflexo da crise financeira internacional?
Trump sempre deixou claro que acha que a globalização e o livre mercado são palavrões - chegando a chamar "livre mercado" de "mercado estúpido". O argumento dele é que é importante proteger e gerar empregos em alguns setores nos EUA. No caso atual é a indústria do aço e do alumínio.
BBC Brasil - Você escreveu que estamos assistindo à desintegração da ordem econômica global. O que vem depois disso?
Na forma como a ordem econômica global funcionou dos anos 1840 aos anos 1930, o Reino Unido era o país industrial mais poderoso e maior defensor do livre mercado. Enquanto isso, o resto do mundo resistia e usava políticas protecionistas. Foi somente nos anos 1930, quando todo o mundo se voltou ao nacionalismo, que o Reino Unido abandonou a defesa do livre mercado. Isso está fortemente ligado à crise internacional e à recessão. Depois disso, os EUA assumiram a hegemonia da defesa do livre mercado internacional desde a Segunda Guerra.

II. A saída dos EUA de acordos multilaterais e a "doutrina isolacionista" de Trump

Como a política nacionalista econômica de Trump coloca-se contra a globalização econômica e organismos multilaterais como a OMC, ele têm rompido com uma série de acordos multilaterais que os EUA assinaram nos últimos anos.


Agora temos uma Doutrina Trump. E ela significa, pelo menos em sua concepção, o mais radical afastamento da política externa bipartidária dos EUA desde 1945.
Em um artigo para o Wall Street Journal, o diretor do Conselho Econômico Nacional, Gary Cohn, e o conselheiro de Segurança Nacional, H.R. McMaster, explicam que Trump tem “uma visão clara de que o mundo não é uma ‘comunidade global’, mas sim uma arena em que nações, atores não governamentais e empresas interagem e competem por vantagens”.

Além da saída dos EUA do Acordo de Paris e do Acordo nuclear com o Irã, logo nos primeiros dias de mandato, Trump retirou os EUA da Parceria Transpacifica, o maior acordo de livre-comércio do mundo, que reúne países como Japão, Austrália, Canadá, México e Peru e que responsável por 40% da riqueza gerada no mundo antes da saída dos EUA.

Ao invés de acordos multilaterais, que envolvem vários países, a política nacionalista de Trump está priorizando acordos bilaterais, fechados apenas entre os EUA e um outro pais.


Diretor do Conselho Nacional Econômico dos Estados Unidos, Larry Kudlow afirmou em entrevista à rede Fox News nesta terça-feira que o presidente Donald Trump pode abandonar o Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (Nafta, na sigla em inglês) e privilegiar negociações de acordos bilaterais com Canadá e México. A declaração é dada dias após os EUA imporem tarifas à importação de aço e alumínio dos dois parceiros, que por sua vez já anunciaram retaliações e que pretendem contestar o comportamento americano na Organização Mundial de Comércio (OMC).

A saída dos EUA desses acordos multilaterais tende a isolar cada vez mais os EUA do resto do mundo. Isso, porém, rompe a própria história dos EUA, um país formado pela massiva imigração não só de ingleses, irlandeses, franceses, holandeses e alemães, mas também de escravos africanos e, mais recentemente, de latino americanos, principalmente do México.

Hoje, aquilo que revela com maior concretude a política nacionalista de Trump é o muro que ele quer construir na fronteira entre os EUA e o México.




Além disso, com chegada de Hitler ao poder na Alemanha em 1933, muitos judeus fugiram da perseguição nazista indo para os EUA. Um desses judeus foi Albert Einstein, que viveu o resto de sua vida nos EUA, e lá conviveu com cientistas de todo mundo – italianos, franceses, indianos e húngaros.

Em 1939, Einstein e o físico húngaro Leonard Szilard, judeu também refugiado nos EUA, escreveram uma carta ao então presidente F.D. Roosevelt sugerindo que os EUA começassem a construção de uma bomba atômica, uma vez que a Alemanha nazista já tinha iniciado seu projeto de construção de uma dessas armas.

Em 1946, depois do fim da Segunda Guerra Mundial, Einstein e Szilard encenaram o momento que discutiam a carta ao presidente Roosevelt.

Hoje, a política nacionalista de Trump está tendo um efeito contrário a essa tradição americana, inclusive na ciência.


No ano passado, o primeiro do governo Donald Trump, as universidades americanas tiveram uma fuga de estudantes estrangeiros não vista em uma década, um fenômeno que especialistas atribuem ao cerco anti-imigração adotado pelo presidente.

No total, as universidades perderam 31 mil alunos estrangeiros (em graduação, mestrado e doutorado) , queda de 3,8% em relação a 2016, de acordo com a National Science Foundation, agência federal independente.

Anexo: A ascensão de movimentos nacionalistas e separatistas na Europa

Na Europa, a massiva onda de refugiados das guerras na África no Oriente Médio, junto com o crescimento da crise econômica, têm levado a uma ascensão de movimentos nacionalistas. Esses movimentos nacionalistas são muitas vezes xenófobos e racistas, e lembram a atitude dos nazistas alemães em relação aos judeus.



O Alto-Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Zeid Ra’ad Al-Hussein, disse-se esta quarta-feira alarmado com a expansão do discurso racista, xenófobo e de incitamento ao ódio na Europa, que chega a dominar a cena política em alguns países.
“Mais de dois terços dos parlamentos nacionais nos países da União Europeia (UE) incluem atualmente partidos políticos com posições extremas contra os migrantes e, nalguns casos, muçulmanos e outras minorias”, afirmou Al-Hussein na apresentação do relatório anual do Alto-Comissariado no Conselho dos Direitos Humanos da ONU, em Genebra.
“Este discurso baseado no racismo, xenofobia e incitamento ao ódio expandiu-se de modo tão significativo que em vários países domina a cena política.
O Alto-Comissário deu como exemplos desta crescente tendência populista, anti-imigração, racista e xenófoba o discurso e as políticas a que se tem assistido na Hungria, Polónia, Áustria e República Checa.

Além de xenófobos e racistas, os movimentos nacionalistas europeus estão colocando em xeque a própria União Europeia. Além da Hungria, Polonia, Austria e Republica Checa, recentemente, na Itália, formou-se um governo com partidos nacionalistas, populistas, antissistema e eurocéticos.


Os partidos que tradicionalmente ocuparam o poder nos últimos anos acabaram derrotados, cedendo o protagonismo a dois novatos: o Movimento Cinco Estrelas, liderado pelo jovem Luigi Di Maio, e a Liga Norte, de Matteo Salvini, que, em busca de nacionalização, passou se denominar somente Liga . Ambos são antissistema, populistas e eurocéticos. Para o choque de governos do Velho Continente, estas duas legendas concentraram cerca de 55% do eleitorado, no que vem sendo considerado um voto de protesto contra a política tradicional e a União Europeia (UE), o que poderia desestabilizar os laços entre o bloco e a quarta maior economia da Zona do Euro.

Porém, o movimento que mais colocou em xeque União Europeia (UE) foi o Brexit – a decisão do Reino Unido de sair da União Europeia, em 2016. O Brexit aconteceu no mesmo ano da eleição de Trump nos EUA, e contou com o seu apoio. 

Efeito domino – A União Europeia é uma união econômica e política criada após a 2ª Guerra Mundial. O bloco funciona como um mercado único, com livre circulação de pessoas, bens, serviços e capitais. Formado por Inglaterra, Escócia, Irlanda do Norte e País de Gales, o Reino Unido começou a fazer parte da União Europeia em janeiro de 1973.
Há forte preocupação de que o voto pela saída tenha o efeito dominó, com outros países organizando consultas similares. Marine Le Pen, da extrema-direita francesa, afirmou que seu desejo é que cada país faça uma votação popular sobre a pertinência da União Europeia.

Desde então, o movimento nacionalista se espalhou por outros países europeus, dentro dos quais têm renascido inclusive vários movimentos separatistas. Em 2017, um plebiscito realizado na Catalunha decidiu pela independência dessa região da Espanha, que, porém, não foi aceita pelo governo espanhol.

O exemplo mais visível desse fenômeno é o da Escócia, no Reino Unido. Motivado por seus resultados eleitorais e pelo Brexit, o divórcio entre Londres e a União Europeia, o Partido Nacional Escocês (SNP) relançou a campanha por um novo plebiscito sobre a independência em relação a Londres.
Outra região muito sensível à ebulição em curso na Catalunha é a de Flandres. Nascido no século 19, o nacionalismo nessa região da Bélgica, de língua holandesa, ganhou força nos anos 2000.
Menos poderosos, os movimentos separatistas de Padania, no norte da Itália, e da Córsega, ilha da França no Mediterrâneo, também acompanham os desdobramentos da causa catalã. No caso italiano, até mesmo a origem da insatisfação é a mesma: a sensação de que parte das riquezas da região vem sendo transferida em forma de impostos e investimentos para outras regiões do país.
Outro movimento, aparentemente sob controle, é o de independência do País Basco, também na Espanha. Marcada pela violência armada do grupo terrorista ETA, a causa perdeu fôlego em 2011 com a deposição das armas.

A saída do Reino Unido da União Europeia, a ascensão de movimentos nacionalistas e separatistas e o próprio desmantelamento da União Europeia apontam para uma situação de enormes perigos. O principal deles é o fato da UE ter sido criada depois da Segunda Guerra Mundial para estabilizar economicamente e politicamente os conflitos entre os países europeus que os levaram à guerra. Agora, com a UE em xeque, a possibilidade entre uma guerra entre esses países também aumenta.

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