Os 50 anos da chegada do homem à Lua

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Às 17h17 (horário de Brasília) do dia 20 de julho de 1969, o módulo lunar da missão Apollo 11, da NASA, pousava na Lua. Quase 7 horas depois, às 23h56, Neil Armstrong daria “um pequeno passo para o homem, um grande salto para a humanidade”, uma frase dita por ele ao pisar na Lua e que marcaria essa missão espacial. Dezenove minutos depois, Edwin Aldrin, juntar-se-ia a Armstrong, tornando-se o segundo homem a pisar na Lua.

 
O astronauta Neil Armstrong na Lua.

Depois de Galileu ter observado pela primeira vez as montanhas e vales da Lua com seu telescópio, em 1610, Aldrin disse que a superfície da Lua é coberta por uma fina “poeira de talco” cinza escuro, sobre a qual estão espalhados pedras e pedregulhos. Essa “poeira” sobre a superfície lunar foi causada pelo choque de meteoritos, que bombardeiam a Lua com uma frequência muito maior do que a Terra pelo fato de não possuir atmosfera. É também pelo fato de a Lua não possuir atmosfera que o céu lunar é preto (como na foto acima) e o Sol é visto muito menor do que na Terra.

 
Reportagem da Folha do dia 21 de julho de 1969 relatando a impressão de Armstrong e Aldrin da superfície lunar.
A viagem da Apollo 11 começara quatro dias antes, em 16 de julho, quando o foguete Saturno V partiu rumo à Lua. Além de Armstrong e Aldrin, a Apollo 11 levava o piloto do módulo de comando, Michael Collins, que permaneceu em órbita ao redor da Lua observando o módulo lunar pousar na Lua.

 
O foguete Saturno V era movido a querosene e hidrogênio e oxigênio líquidos, e foi o responsável por levar a nave Apollo 11 ao espaço. Durante a viagem, à medida que o combustível era queimado, os diferentes estágios se separavam do foguete, de maneira que apenas a nave Apollo chegou à Lua. Fonte: https://www.estadao.com.br/infograficos/ciencia,50-anos-da-conquista-da-lua,878058

Depois do lançamento, a Apollo 11 deu um pouco mais de uma volta ao redor da Terra em quase três horas de voo, e partiu em direção à Lua. Três dias depois, tendo percorrido quase 400.000 km, em 19 de julho, os astronautas entraram em órbita lunar.

 
Trajetória da Apollo 11 durante sua viagem de 8 dias. Fonte: https://www.estadao.com.br/infograficos/ciencia,50-anos-da-conquista-da-lua,878058

O módulo lunar da Apollo 11 ficou quase 22 horas pousado sobre a Lua. De todo esse tempo, Armstrong e Aldrin permaneceram 2h15 andando sobre a Lua. O traje dos astronautas pesava 83 kg, protegendo-os do extremo frio e dando a eles o ar que respiravam. Porém, apesar de todo esse peso, a gravidade da Lua ajudou os movimentos dos astronautas, uma vez que lá a força da gravidade é mais de 5 vezes menor do que na Terra.

Durante o tempo que permaneceram fora do módulo lunar, além coletarem cerca de 20 kg de rochas lunares, eles realizaram três experimentos, um deles que permitiu medir a distância entre a Lua e a Terra e descobrir que nosso satélite natural está se afastando de nós a 3,8 cm por ano.

 
Os três experimentos realizados pelos astronautas. Fonte: https://www.estadao.com.br/infograficos/ciencia,50-anos-da-conquista-da-lua,878058

 
Aldrin montando o sismógrafo na superfície da Lua.

As rochas lunares trazidas à Terra mostraram que a Lua possui uma composição química muito parecida com a Terra, com Ferro e Magnésio, típicos de rochas basálticas, o que indica que a Lua tenha sido formada a partir da Terra. Hoje, acredita-se que há 4,6 bilhões de anos (tempo também determinado a partir das rochas trazidas da Lua) um objeto do tamanho de Marte tenha colidido com a Terra e lançado para o espaço o que viria a ser a Lua. Também foi encontrada água nas rochas lunares, e hoje sabe-se que existe água em abundância sobre a superfície lunar.

Depois das quase 22h na superfície da Lua, às 14h54 do dia 21 de julho, Armstrong e Aldrin iniciaram sua viagem de volta 3h38 depois até módulo de comando, onde reencontram Collins.

 
Foto tirada por Collins do módulo lunar voltando ao módulo de comando. Ao fundo, a uma das fases da Terra vista da Lua.

Finalmente, depois de 8 dias de viagem, às 13h50 de 24 de julho, os astronautas mergulharam no Oceano Pacífico.

 
O módulo de comando sobre as águas do Oceano Pacífico.

Bandeira americana, empreendimento internacional – Além da foto da pegada de Armstrong em solo lunar, uma das imagens mais marcantes da viagem do homem à Lua foi a bandeira americana cravada no satélite natural da Terra. Obviamente, em meio à corrida espacial durante a Guerra Fria, os EUA comemoraram a chegada da Apollo 11 à Lua como uma vitória sobre a União Soviética.

 
A pegada de Neil Armstrong na Lua.

 
Foto da bandeira dos EUA cravada sobre a superfície lunar.

Até então, a União Soviética liderava a corrida espacial, tendo lançado o primeiro satélite ao espaço, o Sputinik, em 1957, sobrevoado e registrado o lado oculto da Lua, em 1959, realizado o primeiro voo espacial, com Yuri Gagarin, em 1961, e conseguido realizar um pouso suave na Lua e registrado imagens de sua superfície, em 1966, com a Lunik 9.

 
Réplica da Lunik 9, a primeira espaçonave a pousar em um astro fora da Terra.

Foto da superfície da Lua tirada pela Lunik 9.

Gilberto Gil musicou o pouso da Lunik 9 na Lua. 

 Porém, apesar de todo chauvinismo americano em torno do pouso na Lua, um empreendimento como esse possui uma história de séculos e um caráter internacional.

 
Artigo publicado no Estadão de 20 de julho de 1969 contando a história de 4 mil anos da conquista da Lua, que teria começado com os astrólogos do Oriente Médio, passado pelos filósofos gregos, Ptolomeu, Copérnico, Galileu, Newton, entre muitos outros, e culminado na Apollo 11.

O próprio Armstrong, falando do espaço um pouco antes de reentrar na atmosfera terrestre, homenageou primeiramente os “gigantes da ciência que antecederam esse esforço”, entre eles Copérnico, Galileu, Kepler, Newton, Faraday, Maxwell e Einstein. Depois, foi a vez de uma série de engenheiros brilhantes que resolveram incontáveis problemas técnicos envolvendo uma viagem como essa.

O próprio programa espacial dos EUA, desde seu início, contou com a participação de inúmeros estrangeiros. O húngaro Theodore von Kárman, por exemplo, coordenou o programa de lançamento de foguetes dos EUA, a partir de 1936, enquanto o alemão Wernher von Braun foi o engenheiro responsável pelos foguetes tanto do primeiro satélite dos EUA, o Explorer 1, lançado em 1958, quanto da missão Apollo 11. Na época, o neozelandês William Pickering era o diretor do Laboratório de Propulsão a Jato, o responsável pelo lançamento do Explorer 1.

 
Artigo de Von Braun publicada no Estadão de 20 de julho de 1969

O próprio Von Braun reconheceu a longa e internacional história que culminou no pouso da Apollo 11 na Lua. Em artigo publicado no Estadão, ele escreveu que “a equipe que possibilitou a realização da Apollo 11 transcende as fronteiras nacionais. A missão em si não foi iniciada em 16 de julho de 1969, mas vários séculos atrás”. Antes dele, em janeiro do mesmo ano, segundo Van Braun, o astronauta Frank Borman disse na Câmara dos Deputados dos EUA que, “contudo, quando afirmamos que se trata de uma conquista americana, somos obrigados a relembrar Newton ... Galileu, Copérnico, Kepler, Julio Verne, Oberth e Tsiolkovski, Goddard ... Nós, na verdade apoiamo-nos nos ombros de gigantes”, conclui ele repetindo as palavras de Newton.

Por isso toda a curiosidade, a esperança e o sentimento de conquista em torno de uma missão que uniu toda a humanidade. Estima-se que o entusiasmo pela chegado do homem à Lua uniu 650 milhões de pessoas na Terra, que acompanharam com a maior expectativa pela TV o pouso da Apollo 11 e os primeiros passos do homem na Lua. A chegada do homem à Lua foi uma demonstração da capacidade da razão humana de compreender o mundo objetivo e de utilizar a tecnologia para conhecê-lo ainda mais.

A partir não só das missões espaciais soviéticas e americanas à Lua e outros planetas e astros, mas também de missões do Japão, União Europeia, China, Índia e, mais recentemente, Israel, o conhecimento humano do sistema solar nos últimos 40 anos tornou-se maior do que em toda a história anterior.

O programa ApolloQuando o presidente dos EUA, John F. Kennedy, em maio de 1961, estabeleceu o objetivo de o homem chegar à Lua antes do final da década, a NASA não possuía foguetes para lançar astronautas à Lua, nenhum computador portátil o suficiente para levar uma espaçonave até a Lua, nenhum traje espacial para os astronautas, nenhuma espaçonave para pousar astronautas na Lua, nenhuma rede de estações de comunicação para conversar com os astronautas durante a viagem.

 
Kennedy discursando no Congresso dos EUA, em 25 de maio de 1961.

Uma vez iniciado, o programa Apollo tornou-se um grande empreendimento social e científico, absorvendo mais da metade dos gastos com pesquisa e desenvolvimento dos Estados Unidos. Estima-se que, em valores atuais, ele tenha custado 264 bilhões de dólares.

O programa Apollo foi três vezes maior do que o Projeto Manhattan, que desenvolveu a bomba atômica dos EUA. Entre 1964 e 1966, cerca de 400 mil funcionários da NASA estavam trabalhando para conseguir realizar a primeira viagem tripulada à Lua, um número maior do que a quantidade de soldados dos EUA no Vietnã e do que a quantidade de funcionários das maiores empresas dos EUA, exceto a GM.

As contradições do Programa Apollo – Carl Sagan, astrônomo e grande divulgador científico que trabalhou no projeto Apollo e em muitos outras missões espaciais da NASA, em seu livro “Pálido ponto azul”, escreveu sobre as contradições da missão à Lua.

Capa do livro Pálido Ponto Azul, de Carl Sagan, à esquerda, e foto tirada pela Voyager da Terra, o pálido ponto azul no espaço.

Leitura de um trecho do Pálido Ponto Azul

Segundo ele, “enviar pessoas para descrever órbitas ao redor da Terra ... requer foguetes. Esses mesmos foguetes podem ser usados para a guerra nuclear. A mesma tecnologia que transporta o homem para a Lua pode carregar ogivas nucleares de uma metade à outra da Terra [e] ... se construir uma ‘estação de guerra’ a laser. ... O espaço [poderia se tornar] o novo ‘campo de batalha’, [e] a nação que controlasse o espaço ‘controlaria’ a Terra.”

Ele ainda diz que “o símbolo mais irônico [da missão Apollo] é uma placa assinada pelo presidente Nixon” deixada na Lua, onde “se lê: ‘Viemos em paz em nome de toda a humanidade’. Enquanto os EUA despejavam 7,5 megatoneladas de explosivos convencionais sobre pequenas nações no sudeste asiático, nós nos congratulávamos de nossa humanidade: não faríamos mal a ninguém numa rocha sem vida.”

 
Placa deixada na Lua pela Apollo 11.

Sagan, de fato, reconhece que “o principal objetivo da Apollo não era a ciência.” Porém, a missão à Lua “transmitiu confiança, uma energia e uma largueza de visão que conquistaram a imaginação do mundo. ... Despertou otimismo acerca da tecnologia, um entusiasmo pelo futuro. Se podíamos voar para a Lua, ... o que mais não poderíamos fazer?”

Um dos feitos mais notáveis da ida à Lua foi também o mais óbvio e simples, mas cujas consequências foram inesperadas. Sagan diz que os astronautas da Apollo “fotografaram o seu planeta natal. ... Essas imagens ajudaram a despertar nossa adormecida consciência planetária. Elas fornecem uma prova incontestável de que todos partilhamos o mesmo planeta vulnerável. Elas nos lembraram o que é importante e o que não é.”

 

Por fim, ele diz que “É possível que tenhamos descoberto essa nova perspectiva bem a tempo, exatamente quando nossa tecnologia ameaça a habitualidade de nosso mundo. Qualquer que tenha sido o motivo que suscitou o programa Apollo, por mais enleado que tivesse no nacionalismo e nos instrumentos mortíferos da Guerra Fria, o reconhecimento inevitável da unidade e fragilidade da Terra é seu lucro claro e luminoso. O que começou em mortal competição tem nos ajudado a ver que a cooperação global é a precondição essencial para a nossa sobrevivência. Viajar é ampliar os horizontes.”

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