Em ano marcado por eventos climáticos extremos, relatório da ONU aponta para efeitos irreversíveis do aquecimento global

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Um relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), publicado em 9 de agosto, mostrou que o ser humano é o responsável por 1,07˚C do 1,1˚C no aumento da temperatura média do planeta desde 1850, quando se considera que se iniciou a era industrial. Caso as emissões de gases de efeito estufa não diminuam, particularmente do gás carbônico (CO2) e do metano (CH4), o aquecimento global pode chegar a 4,4˚C até o final do século.

O relatório mostrou que aquecimento global tem como causa a ação humana. Apesar de a temperatura da Terra ter aumentado em média 1,1˚C desde 1850, sobre os continentes esse aumento foi de 1,6˚C. (Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=uD7FCs4XM1M)



É o sexto relatório publicado pelo IPCC desde 1988, quando o painel foi criando pelo Programa da ONU para o Meio Ambiente e pela Organização Meteorológica Mundial. Este último relatório do IPCC foi produzido por 234 cientistas de 66 países, incluindo o Brasil.  

Equipe brasileira no IPCC. A professora Thelma Krug, do INPE, no alto à direita, é a vice-presidente do IPCC. (Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=uD7FCs4XM1M)

O relatório também aponta que o derretimento de geleiras, o consequente aumento do nível do mar e a mudança na temperatura dos oceanos, entre outros impactos do aquecimento global, são irreversíveis em séculos ou milênios.  

A taxa de aumento do nível do mar aumentou de 1,35 mm/ano entre 1901 e 1990 para 3,7 mm/ano entre 2006 e 2018. A projeção é que até 2100 o nível do mar aumente entre 0,5 e 1 metro, podendo aumentar 15 metros até 2300. (Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=uD7FCs4XM1M)

A intensidade, a frequência e a duração de eventos climáticos extremos, como ondas de calor, secas e inundações, também tendem a aumentar ao longo deste século, segundo o IPCC.

Caso a temperatura aumente 2˚C até o final do século, haverá uma redução das chuvas entre 10% e 20% no Brasil central e no leste da Amazônia, tornando essas regiões mais secas (imagem à esquerda). Já na região sul do Brasil poderá haver um aumento das chuvas. Isso, por sua vez, tem impacto na umidade do solo (imagem à direita). As imagens acima também mostram um grande aumento das chuvas e da umidade do solo na África central.

Além dos impactos no clima, o aquecimento global tem impactos diretos sobre a produção agrícola, podendo aumentar a fome mundial. Estima-se também que bilhões vivam em áreas que sofrerão processo de erosão, serão inundadas, se tornarão desertos ou serão destruídas por incêndios, furacões ou ciclones nos próximos 10 anos. O número de refugiados causados pelas mudanças climáticas pode ser maior do que o de guerras (https://noticias.uol.com.br/videos/2021/08/09/jamil-poderemos-ter-mais-refugiados-que-deixam-paises-por-mudancas-climaticas-do-que-por-guerras.htm), que em 2020 foi de 80 milhões de pessoas.

As mudanças climáticas poderão aumentar o número de pessoas desalojadas por desastres naturais (que é de quase 13 milhões por ano) e de pessoas vivendo em extrema pobreza (que é de 700 milhões de pessoas no mundo). A ONU também prevê o aumento de pandemias, de doenças como a diarreia e da mortalidade da população em geral (https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2021/08/14/desmatamento-aumentara-frequencia-de-novas-pandemias-diz-painel-da-onu.htm).


Brasil – Em 2018, o país foi o sétimo país no mundo que mais emitiu gases de efeito estufa. 

https://oglobo.globo.com/mundo/cupula-de-biden-levara-ao-centro-do-debate-adocao-de-energias-limpas-pelos-paises-ricos-24980373

Estima-se que 72% das emissões brasileiras em 2019 tenham sido causadas por desmatamento (28%) e queimadas (44%), que nos dois anos passados atingiram níveis recordes. Depois, a combustão de combustíveis fósseis, como a gasolina e o diesel em veículos e o gás natural em termoelétricas, é responsável por 19% das emissões de gases de efeito estufa pelo Brasil. 

https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2021/08/06/brasil-registra-segundo-pior-ano-de-desmatamento-na-amazonia-da-serie-historica.ghtml

A principal consequência do aquecimento global sobre o Brasil será períodos de secas mais frequentes. Neste ano, isso já afetou a produção e o preço de milho, café e cana-de-açúcar, com impactos também na pecuária.   

https://www.dw.com/pt-br/mudan%C3%A7as-clim%C3%A1ticas-podem-inviabilizar-soja-e-gado-no-brasil/a-58807303  

Já existem evidências de que áreas da Amazônia mais atingidas pelo desmatamento estejam passando pelo processo de savanização, com a vegetação típica da floresta sendo substituída por aquela encontrada no cerrado (https://www.ecycle.com.br/savanizacao-da-amazonia/). Caso a área de vegetação destruída na Amazônia aumente de 20% para 25%, existe a possibilidade de a floresta não conseguir se recuperar e toda ela passar por esse processo.  

https://www.dw.com/pt-br/processo-de-savaniza%C3%A7%C3%A3o-da-amaz%C3%B4nia-j%C3%A1-come%C3%A7ou/a-58809139   


Acordo de Paris – Em 2015, durante a 21ª Convenção da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP21), 195 países assinaram o Acordo de Paris para diminuir as emissões de gás carbônico e seus efeitos sobre o aquecimento global e as mudanças climáticas. Com isso, esperava-se limitar o aumento de temperatura do planeta Terra a 1,5˚C até 2040. Porém, segundo o relatório do IPCC, isso pode acontecer já até 2030.

https://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,onu-aponta-planeta-1-5c-mais-quente-uma-decada-antes-do-previsto-e-eventos-climaticos-extremos,70003804771  

Segundo o Acordo de Paris, os EUA deveriam reduzir suas emissões de gás carbônico em 25% até 2025, enquanto o Brasil prometeu diminuir suas emissões em 37% também até esse mesmo ano. Porém, em 2017, o presidente Donald Trump retirou os EUA do Acordo de Paris. Trump atacou o acordo dizendo que se trata de uma “conspiração global para prejudicar a economia dos EUA”. Além disso, Trump nega o aquecimento global e acusou a China de “criar o aquecimento global para tornar a indústria americana menos competitiva”.  

https://g1.globo.com/natureza/noticia/trump-anuncia-saida-dos-eua-do-acordo-de-paris-sobre-mudancas-climaticas.ghtml  

Cúpula do Clima e COP26 – Com a posse do presidente Joe Biden, em janeiro deste ano, os EUA voltaram ao Acordo de Paris. Em abril, ele organizou a Cúpula Climática, prometendo diminuir as emissões de gases de efeito estufa dos EUA em cerca de 50% até 2030. 

https://g1.globo.com/mundo/noticia/2021/02/19/eua-voltam-oficialmente-ao-acordo-de-paris-sobre-o-clima.ghtml 

Além de preocupações propriamente ambientais, a volta dos EUA ao Acordo de Paris tem o objetivo de recuperar a economia americana. Desde a década de 1970, um período caracterizado por uma ampla desindustrialização, os EUA têm crescido cada vez menos, o que pode fazer a China ultrapassar a economia americana nos próximos anos.  

Faz parte desse plano de recuperação econômica dos EUA o “New Green Deal” (https://pp.nexojornal.com.br/perguntas-que-a-ciencia-ja-respondeu/2021/A-proposta-do-Green-New-Deal-em-6-pontos), que prevê um investimento trilionário para aumentar a produção de energia elétrica solar e eólica e o número de veículos elétricos, ao mesmo tempo que tenta combater o desemprego crescente.  

Em novembro deste ano, a Escócia irá sediar a 26ª Convenção da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP26), com o objetivo de avaliar os resultados do Acordo de Paris. 

https://g1.globo.com/natureza/aquecimento-global/noticia/2021/08/09/cop26-quais-as-grandes-metas-da-onu-para-limitar-as-mudancas-climaticas.ghtml 

Eventos climáticos extremos em 2021 – O ano de 2021 tem sido marcado pelo aumento da frequência e pela intensificação de eventos climáticos extremos – particularmente inundações e secas. Porém, o aquecimento global tem também causado ondas de frio mais intensas. 

https://noticias.r7.com/internacional/chuvas-intensas-secas-e-ondas-de-calor-deixam-cientistas-em-alerta-24072021

O aumento de 1,1˚C na temperatura média do planeta tem efeitos também sobre os oceanos. Em 2019, os oceanos estiveram 0,075°C mais quentes em relação à temperatura média entre 1981 e 2010 – o calor necessário para esse aquecimento é o equivalente àquele liberado por 3,6 bilhões de bombas atômicas como a de Hiroshima.

Quanto maior a temperatura dos oceanos, maior é a evaporação da água e maior é a umidade no ar. Isso pode levar tanto a um aumento das chuvas em algumas regiões do planeta, quanto a secas mais intensas causadas pela alteração da circulação das massas de ar.   

Em fevereiro, o Texas, estado americano com clima quente e desertos, registrou as menores temperaturas em 30 anos, com temperaturas de até – 18˚C. No começo de julho, as temperaturas no Canadá chegaram a quase 50˚C, uma temperatura quase 20˚C maior do que o normal para esta época do ano (https://brasil.elpais.com/ciencia/2021-07-02/canada-49c-entenda-o-que-esta-por-tras-das-ondas-de-calor-cada-vez-mais-frequentes.html).   

No final de julho, a China foi atingida por chuvas torrenciais, quando em três dias choveu o mesmo que o previsto para o ano na província de Zhengzou. Cientistas consideram que eventos como esse acontecem a cada 5 mil anos. Um pouco antes, a Alemanha também registrou chuvas recorde em julho. 

https://www.dw.com/pt-br/ap%C3%B3s-inunda%C3%A7%C3%B5es-hist%C3%B3ricas-alemanha-discute-li%C3%A7%C3%B5es-da-trag%C3%A9dia/a-58315555  

No Brasil, a região amazônica registrou a maior enchente em 119 anos (https://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2021/06/05/cheia-recorde-rio-negro-atinge-30-metros-e-ultrapassa-em-3-cm-a-maior-enchente-em-119-anos.ghtml), enquanto o Sudeste está vivendo a maior seca em 91 anos. No final de julho, o Brasil apresentou frio recorde, com temperaturas chegando a quase – 9˚C no Sul do país.   

https://g1.globo.com/fantastico/noticia/2021/07/04/pior-seca-no-brasil-em-91-anos-acende-alerta-existe-o-risco-de-um-novo-apagao.ghtml  

O aquecimento global e a recente onda de frio no Brasil – Apesar de o Brasil ter sido atingido por um frio intenso no final de julho, o inverno em 2021 será mais quente do que os anteriores. Na verdade, a onda de frio foi antecedida por temperaturas de quase 30˚C em pleno inverno. 

https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2021/07/28/cidade-de-sp-vai-da-tarde-mais-quente-do-inverno-a-mais-gelada-em-24-horas-previsao-e-de-frio-anda-mais-intenso.ghtml  

Esse aumento de temperatura do inverno brasileiro intensifica a circulação de ar entre a Antártica e o país, trazendo ar frio e úmido do polo Sul enquanto o Brasil leva ar quente para essa região.

 Assim como acontece com a circulação de outras massas de ar pelo mundo, é o fenômeno da convecção do ar o responsável por trazer o ar frio e úmido do polo Sul ao Brasil no inverno.   

Na convecção atmosférica, o ar quente, que é menos denso, sobre o Brasil sobe, abrindo o caminho para o ar frio do polo Sul atingir o país. 




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