ONDE E O QUE ACHARAM –Na semana retrasada, depois de 21 dias de escavação na Caverna Estrela Nascente, próximo a Johanesburgo, na África do Sul, foi anunciada a descoberta de 1550 fragmentos de pelo menos 15 esqueletos de crianças, adolescentes, adultos e idosos, tanto machos quanto fêmeas. Trata-se da maior coleção de ossos encontradas em um único lugar na África e uma das maiores do mundo.
Os ossos foram descobertos por acaso por
dois exploradores de caverna em 2013 e, logo depois, a equipe de cerca de 60
pessoas do paleoarqueólogo Lee Berger começou os trabalhos de pesquisa. Os
ossos estavam a mais de 40 metros da entrada da caverna e, para se chegar ao
local, foi necessário percorrer dois tuneis estreitos de 20 cm de largura e 25
cm de altura. Depois de 20 minutos, chegava-se a uma câmera com todos os ossos.
O perigoso acesso à câmera e o delicado trabalho de retirar os ossos coube a 6
arqueólogas pequenas e magras, apelidadas pelo chefe da equipe de “astronautas
subterrâneas”.
COMO ERAM – Os pulsos, mãos, pernas e pés
parecem mais modernos do que os do australopitecos. Porém, o cérebro pequeno
(do tamanho de uma laranja), os dedos curvados e a forma dos ombros, tronco e
articulações do quadril são parecidos com indivíduos de uma espécie mais
antigo. O maxilar e os dentes são de aparência intermediária.
Acredita-se que o adulto macho tinha cerca
de 1,50 m, os ossos dos pés e joelhos indicam que andavam em pé, porém os dedos
curvados mostram que esses indivíduos não estavam muito longe uma espécie que
escalava árvores. Apesar do pequeno cérebro, os osso da mãos e pulsos indicam
que podem ter sido capazes de fabricarem seus próprios instrumentos, mas nenhum
instrumento foi encontrado na caverna.
Essas características levaram os
pesquisadores a classificar os indivíduos em uma nova espécie, primitiva do
gênero homo, que foi chamada de homo naledi (naledi é a palavra na língua
local, o sesotho, para estrela). Essa espécie seria uma ponte entre os primatas
bípedes e os homens modernos. Porém, muitos paleoarqueólogos
acreditam que, na verdade, esses fósseis sejam do homo erectus primitivo, uma
espécie descoberta no século XIX.
IDADE - Ainda não foi possível realizar a
datação dos ossos encontrados, ou mesmo do material encontrado com os fósseis
(pedras, sedimentos, plantas e animais fósseis), pois, a datação com carbono 14
pode danificar o material encontrado. A estimativa é que a idade dos ossos seja entre
2,5 e 2,8 milhões de anos.
COMO OS OSSOS FORAM PARAR LÁ – Ainda não se
sabe como os indivíduos dos esqueletos encontrados foram parar em um lugar de
tão difícil acesso, escuro e sem a presença de fósseis de outras espécies. Os
pesquisadores também procuraram por outros acessos à câmera que podem ter sido
obstruídos, mas nenhum foi encontrado.
O líder da expedição,
Lee Berger, acredita que os homo naledi estavam usando a câmara para enterrar
os mortos, o que mostra que realizavam rituais. Isso, por sua vez, é um
comportamento complexo que não se acreditava que ancestrais primitivos do homem
pudessem realizar. Numa lugar tão profundo e escuro da caverna, levar os corpo
para lá indica também o uso do fogo para iluminação.
PERSPECTIVA – Na maior parte dessas
descobertas, apenas alguns indivíduos são encontrados, o que limita o
conhecimento dos pesquisadores sobre a espécie, levando ao perigo de se tirar
conclusões erradas de uma população a partir de alguns indivíduos. Isso
aconteceu, por exemplo, com os fósseis encontrados do homo neandertal, cujos
primeiros indivíduos descobertos levaram à conclusão que eram muito diferentes
dos humanos. Porém, na medida em que novos fósseis foram encontrados,
descobriram que os ossos das primeira descoberta estavam deformados pela
artrite; hoje sabe-se que possuem um corpo e uma altura parecidas com as do
humano, apenas mais robustos.
A análise dos ossos permitirá uma compreensão
completa desse grupo, como os tipos de ferimentos que possuíam, doenças,
hábitos alimentares, etc. Segundo Berger, "nós vamos saber quando seus filhos pararam de mamar,
quando eles nasceram, como eles se desenvolveram e em que velocidade, as
diferenças entre homens e mulheres em cada estágio de desenvolvimento, da
infância para a adolescência, como eles envelheceram e como eles
morreram."
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