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Desde a Antiguidade, Marte chama a atenção
no céu por sua cor vermelha, o que fez esse planeta receber o nome do deus
romano da guerra. Junto com Mercúrio, Vênus, Júpiter e Saturno, Marte pode ser
observado a olho nu e durante muito tempo seu movimento retrogrado intrigou os
maiores astrônomos da época. Ptolomeu, que viveu no século I d.C., explicou o
movimento retrogrado de Marte considerando que Marte realizava um movimento
circular ao redor da Terra (deferente) e outro movimento circular em torno do
deferente (epiciclo). É importante lembrar que, até o século XVI, os astrônomos
explicavam o movimento dos planetas considerando a Terra parada e no centro do
universo, explicação conhecida como modelo geocêntrico.
No século XVI, Copérnico elaborou uma
explicação para o movimento dos planetas considerando o Sol no centro do
universo e a Terra se movendo ao seu redor, como os outros planetas. O modelo
heliocêntrico, como ficou conhecido, explicava o movimento retrogrado de Marte
a partir da posição relativa entre a Terra e Marte, levando em consideração
ainda que o movimento da Terra ao redor do Sol é mais rápido do que Marte.
Problemas em torno da órbita de Marte
ajudaram a consolidar o modelo heliocêntrico. Kepler, em 1609, a
partir dos dados de Brahe da órbita de Marte, concluiu que a trajetória do
planeta vermelho era uma elipse, aproximando e afastando-se do Sol e, por isso,
mudando de velocidade. Isso mudou a astronomia na época, pois
acreditava-se que os planetas moviam-se em círculos ao redor do Sol e sempre a
mesma velocidade.
A viagem a Marte também ajudou a consolidar
a Teoria da Relatividade Geral, elaborada em 1915 por Einstein para explicar os
movimentos dos planetas. Existiam várias problemas que a Teoria da Gravitação Universal,
de Newton, não conseguia explicar, entre eles o movimento de precessão do
periélio de Mercúrio (o fato da distância mais próxima de Mercúrio em relação
ao Sol mudar ao longo do tempo, como mostra a imagem abaixo), que a Teoria da
Relatividade Geral resolveu. Em 1976, a missão espacial Viking, da NASA, para
Marte ajudou a detectar curvaturas do
espaço-tempo previstas pela teoria de Einstein (ver mais em: http://super.abril.com.br/tecnologia/a-prova-que-faltava)
Os
50 anos de exploração de Marte – Neste ano de 2015,
a NASA comemora 50 anos de exploração de Marte.
Marte é o quarto planeta do sistema solar,
depois da Terra, com a metade do diâmetro do nosso planeta e uma massa 10 vezes
menor. Possui uma atmosfera extremamente rarefeita, composta principalmente por
dióxido de carbono (CO2), e possui estações do anos, com temperaturas
que variam de cerca de – 140˚C a 30˚C.
É o planeta mais estudado do sistema solar.
Atualmente, dois veículos espaciais da NASA rodam a superfície de Marte e 5
satélites, 3 da NASA, um da Agência Espacial Européia e um indiano, orbitam o
planeta. A primeira viagem espacial a Marte aconteceu em 1965, com a missão
Mariner 4, da NASA. Em 1971, a sonda Marte 3, da URSS, pousou em sua superfície,
mas logo depois parou de funcionar. A URSS também foi o primeiro país a
conseguir pousar uma nave espacial na Lua, em 1966, e em Vênus, em 1970. Apenas
em 1976, com a missão Viking, a NASA conseguiu pousar com sucesso em solo
marciano.
A dificuldade de se pousar em Marte é tal que quase metade das missões falharam, seja porque não conseguiram entrar em órbita ou colidiram fortemente com sua superfície. Felizmente, graças a avanços científicos e tecnológicos sem precedentes, fruto do trabalho de centenas de pessoas, nos últimos anos a NASA conseguiu realizar uma série de pousos bem-sucedidos. Depois do pouso do veículo espacial Pathfinder, em 1997, que estudou o solo marciano durante dois meses, em 2004, pousaram em Marte dois outros veículos, Spirit e Opportunity.
Os pousos dos veículos Spirit e Opportunity
aconteceram em lugares diferentes do equador marciano e exigiram uma série de
cuidados para que não danificassem seus aparelhos. Depois de uma queda amortecida
com paraquedas, utilizaram um sistema de colchões infláveis para absorver o
impacto com o solo de Marte. Inicialmente, explorariam Marte por 90 dias, mas
duraram muito mais. Spirit parou de funcionar em 2010, depois de atolar e não
conseguir girar seus paneis solares para o Sol. O veículo Opportunity ainda
hoje encontra-se em Marte, tendo percorrido quase 40 km em solo marciano.
Tanto Spirit quanto Opportunity encontraram
minerais que requerem a presença de água para se formarem, como a sílica,
substância formada pela reação de pedra com água aquecida. Isso indica a
presença não só de água líquida, mas também de calor em algum momento da
história de Marte, duas coisas essenciais para a formação da vida.
Em 2008, o módulo Phoenix conseguiu pousar
com sucesso no hemisfério norte de Marte, na latitude de 68˚, onde existe gelo
sob sua superfície, um lugar propício para a formação de moléculas orgânicas.
Funcionou até 2010 e teve o objetivo de investigar os reservatórios de águas
marcianos, um fator chave para qualquer missão tripulada ao planeta. Possuía um
braço de mais de 2 m de comprimento com uma broca para coletar amostras do solo.
Com oito pequenos fornos, conseguiu determinar a composição química do solo sua
composição.
O pouso do módulo Phoenix, com quase 500
kg, envolveu uma enorme complexidade. Toda a operação de pouso, que durou 7
minutos, aconteceu automaticamente, uma vez que as informações demoram 14
minutos para chegar à Terra. Além do paraquedas, foram utilizados 12 jatos para
amortecer a queda. Ao longo da descida, o módulo de pouso teve que se manter
voltada para o Sol para gerar eletricidade.
Apesar de todas essas missões, a tentativa
de mais ousada de se conhecer Marte aconteceu em 2012, com o veículo espacial
Curiosity. Depois de 9 meses de viagem, conseguiu pousar no planeta vermelho
para tentar encontrar evidências de que o planeta conseguiu abrigar vida.
A investigação inicial do solo marciano pela
Curiosity é realizada com um laser infravermelho e, depois, análises mais
cuidadosas são realizadas com um microscópio e um espectroscópio de raios-x. O
veículo Curiosity também possui uma broca que permite recolher uma amostra do
solo e realizar uma análise ainda mais detalhada.
A Curiosity encontrou evidências de que
Marte pode ter condições para a existência da vida microbiana. Umas dessas
evidências são rochas arredondadas e com veias que sugerem que tenha existido
água corrente, onde possivelmente um rio pré-histórico desaguava.
A análise dessas rochas mostraram a
presença de oxigênio, carbono, nitrogênio, fósforo e enxofre. Também foi
encontrada argila nas amostras analisadas, que requer água no estado líquido
para ser formada, uma coisa nunca antes observada. Foram descobertas produtos
químicos formados a partir de um mistura de óxidos, que são a necessários para
que micróbios na Terra consigam viver. Tudo isso indica que são grandes as
chances da vida microbiana em Marte ter se desenvolvido centenas de milhões ou
bilhões de anos atrás.
Um outro objetivo da Curiosity é entender
por que o clima de Marte mudou tanto nos últimos milhões de anos. Acredita-se,
por exemplo, que Marte possuía uma atmosfera mais densa que a atual, que
possibilitava o armazenamento de calor e humidade. Curiosity também estudou os
níveis de radiação na superfície de Marte, tendo em vista uma missão espacial
tripulada ao planeta.
Num estudo do final de 2014, descobriram
que o nitrogênio presente no solo de Marte teve sua origem em nitratos,
moléculas com um átomo de nitrogênio e três átomos de oxigênio, o que indica
que Marte pode ter tido um ciclo do nitrogênio, um mecanismo necessário para a
manutenção da vida. O nitrogênio de nitratos pode também ser incorporado à moléculas mais complexas, como de DNA e proteínas. Também foi anunciada
evidências que indicam que Marte, durante o começo de sua vida, pode ter
abrigado um oceano de água líquida sobre sua superfície.
Além de hoje existirem dois veículos
espaciais em Marte, a NASA possui três satélites: o Mars Odyssey, de 2001, o Mars Reconnaissance
Orbiter, de 2005, e o MAVEN, de 2013. Existem ainda outros dois satélites ao
redor de Marte, um da Agência Espacial Europeia e outro da Índia. O último da
NASA, o MAVEN, tem o objetivo de entender como Marte perdeu uma camada com gás
carbônico, nitrogênio, oxigênio, água e outros gases da atmosfera. O estudo da
atmosfera de Marte tem também o objetivo de ajudar a entender se alguma vez
existiu vida no planeta vermelho.
Se alguma vez existiu água na superfície de
Marte e possuía uma atmosfera mais densa, como tudo indica, a questão que se
coloca é: para onde foram? São duas as hipóteses: podem ter ido para a crosta
do planeta, ou para o alto da atmosfera, podendo terem ido embora para o
espaço. A missão MAVEN tem o objetivo de estudar a segunda hipótese. Sobre a
água na superfície, acredita-se que, pela fraco campo magnético, o vento solar
consegue penetrar a atmosfera do planeta e seja responsável pela perda de água
que o planeta sofreu ao longo de sua história de 4 bilhões de anos.
Em 2002, a Mars Odyssey observou uma grande
de gelo sob a superfície do planeta. O solo marciano possui uma formação
poligonal, parecida com as encontradas em regiões frias da Terra, causada pelo
alternância entre congelamento e desgelo do solo, indicando a existência de
água no estado líquido pelo menos por um período do ano marciano, um fator
essencial para diferentes formas de vida orgânica.
E a mais recente descoberta foi realizada
pelo satélite Mars Reconnaissance Orbiter: Marte não apenas possui gelo e possuiu
água no estado líquido, como ainda possui. Durante 4 anos, o satélite tirou
fotos de montanhas de Marte e foi observadas linhas escuras, em determinadas
épocas mais largas e compridas, em outras mais finas e curtas e em outras
épocas as linhas desapareciam. Com um instrumento que analisa a luz refletida
pelas linhas, descobriram sais que só podem existir com a presença de água.
Concluíram, portanto, que a variação do comprimento e largura das linhas era causado
pela variação da quantidade de água escorrendo pelas montanhas em diferentes
épocas do ano, com as linhas mais grossas e compridas no verão, e com as linhas
desaparecendo no inverno com o congelamento da água.
O entusiasmo de todos com missões espaciais
como a Curiosity, que teve seu pouso em Marte acompanhado por milhões de
pessoas ao redor do mundo, é resultado de um sentimento mais profundo: um
desejo de aprender, explorar e ver o progresso no desenvolvimento humano
através da ciência.
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